segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Depeche Mode - Violator (1990)


Violator é, sem dúvida, o melhor disco já feito pelo Depeche Mode. Desde sua estréia em 1981, quarteto de Basildon, Inglaterra, definira seu som como um mix de Kraftwerk, Roxy Music e a fase Berlin de David Bowie, sob a estética mais moderna que a época permitia: o chamado "new romantic", totalmente eletrônico, sem outro instrumento que não fosse sintetizador e teclados. Precisaram de seis discos e mais um álbum duplo ao vivo para atingir o brilho ofuscante de Violator.

Os dois trabalhos anteriores do Depeche, Music For The Masses (1987) e o ao vivo 101 (1989) já mostravam que algo estava mudando na banda. A ingeuidade camp-pervertida estava dando lugar a um talento inevitável para a ourivesaria pop, vide o sucesso mundial perene de "Strangelove", faixa de Music For The Masses que até hoje levanta pistas de dança. Mas não era só isso: a "cara" do disco ao vivo, gravado na perna americana da turnê de divulgação de Music... apontava para algo emprestado da estética Joshua Tree do U2, algo como se o Depeche procurasse seriedade, legitimidade, relevância, algo capaz de tornar a banda mais importante que mera fazedora de tecnopop e, quem sabe, peitar New Order e Pet Shop Boys de igual pra igual no mundinho clubber inglês. As três bandas lançaram discos perfeitos no período 1989-90; o New Order veio com Technique, o PSB com Behaviour e o Depeche cravou o melhor dos três, Violator. E foi pra galera.

Violator, no entanto, não tem nada de alegre. É um disco nigérrimo, dark, obsessivo, o oposto dos discos das formações "rivais", capaz de pegar emprestados elementos do rock - algo inédito no cânon depechiano - e torná-los "tecno" naturalmente, como se sempre estivessem ali. A abertura do disco com "World In My Eyes" já coloca o ouvinte a par do que está por vir, numa evolução do que viera até então, mas é em "Personal Jesus", a terceira música de Violator que o bicho pega. Numa mistura de funk de branco com hip-hop e ares europeus. Martin Gore e David Gahan, vocalistas e cérebros da banda, oscilam performances tristes e raivosas, deixando músicas como "Enjoy The Silence" no rol dos grandes singles de todos os tempos. A seqüência, "Policy Of Truth", pulveriza riffs de teclado, bateria robótica e uma insuspeitada tendência para o groove em pouco menos de cinco minutos de perplexidade.

As nove faixas de Violator são conceituais, focadas numa idéia dark moderna e deserta - que ainda não envelheceu - algo como um anti-Achtung Baby (disco que o U2 lançaria um ano depois e que redirecionaria sua carreira). Não por coincidência, na produção de Violator está Flood, o sujeito que ajudaria Brian Eno a recriar a banda irlandesa em Berlin, poucos meses depois.

Violator é um dos grandes discos dos anos 80 e dos anos 90, ao mesmo tempo.

2 comentários:

F3rnando disse...

Odiava DM até esse disco. E ainda continuei odiando um pouco, pq "Enjoy the Silence" tocou canalhamente em todo canto! Mike Patton o incluiu entre seus discos favoritos de 1990 e finalmente caiu a ficha. Esse disco, pra mim, liricamente, só fica atrás de "Highway 61" do Dylan. Essa tal "estética Joshua Tree" ataca eternamente as bandas inglesas, que não conhecem a gigantesca e histerica indústria do showbussiness norte-americano. Atrás desse mercado muitas pisam na jaca, a bem da verdade.

Unknown disse...

Palavras são muito desnessárias...