sábado, 15 de novembro de 2008

Stereolab - Mars Audiac Quintet (1994)


Há dois tipos de discos do Stereolab: os experimentais e os melódicos. No primeiro tipo, o casal Tim Gane e Laetitia Sadier incorporam blips e blops diversos em verdadeiros exercícios estilosos de música pop, banhada de rock alemão dos anos 70 (o tal krautrock), nos quais eles ampliam conceitos e contextos. Aliás, o próprio nome da banda vem dessa idéia de buscar sons futuristas e inusitados, sendo "stereolab" o nome de um dispositivo sonoro roubado de experiências secretas, como num filme de 007 com Sean Connery no papel principal.

Os melódicos são mais interessantes para o fã de música pop. Neles, o casal se vale do aparato tecnológico para criar delicadas canções atemporais a tal ponto que poderiam estar na trilha sonora do tal filme de James Bond acima, bem como na lista de algum DJ bem informado, tocando num buraco da Inglaterra. Os vocais de Laetitia, quase sempre em francês, são delicados e compõem o contraponto ideal para as cascatas de sons que Gane vai colocando, camada por camada.

Em Mars Audiac Quintet o Stereolab tem seu disco mais melódico, seguido de perto pelo trabalho seguinte, Emperor Tomato Ketchup (1996). Com a participação de Sean O'Hagen, líder dos High Llamas e fã de Brian Wilson, a epifania sonora foi mais intensa do que nunca. A abertura com "Three Dee Melodie" já nos leva para as alturas, com riffs de órgão e bateria econômica, tudo servindo de cama para Sadier exercitar sua coqueteria vocal. O contracanto de Mary Hansen (vocalista precocemente falecida em 2002) faz milagres sonoros. "Wow And Flutter" quase parece uma canção normal, cheia de guitarrinhas sutis e tecladinhos espertos, novamente colocados à serviço de Laetitia. "Transona Five" mais parece uma viagem de Brian Wilson à Lua, enquanto "Des Etoilles Electroniques" é cheia de barulhinhos em meio a um órgão dominante.

O momento iluminado do disco está, entretanto, em "Ping Pong". Esta foi a primeira canção da banda a fazer sucesso radiofônico e clípico e permanece, até hoje, como um dos grandes acertos da década passada. São três minutos e dois segundos de perfeição melódica. O início é rapidinho, agitadinho, capaz de te levar para a pista de dança. Aí entra o vocal de Laetitia, sempre em francês, falando sobre... o marxismo e o vai-vém da economia mundial como um resultado de prosperidade e miséria, além de mencionar a riqueza mal distribuída do mundo. Os vocais principais se trançam aos backings, dando uma passagem imediata para os arranjos easy-listening sessentistas que tanto deram fama a Burt Bacharach e mesmo Ray Conniff.

O disco ainda avança mais dentro do crossover melodia-modernismo retrô, numa viagem que poderia ser a bordo da espaçonave Jupiter Dois, de Perdidos no Espaço.

Stereolab permanece como uma banda ímpar no cenário musical, ao menos da década de 1990, e tem credenciais para encarar um monte de gente influente e talentosa, exibindo uma característica lamentavelmente ausente nos dias de hoje: capacidade de remodelar influências, misturá-las e fazer algo novo e pessoal.

Um comentário:

Unknown disse...

Grande Stereolab. Esse disco é bem parecido com o seguinte, Emperor Tomato Ketchup, provavelmente o melhor disco deles. Fora a grande faixa que é Ping Pong (como me lembra a Casa da Matriz), me amarro em International Colouring Contest, feia em homenagem à Lucia Pamela (procura ouvir o "Into Outer Space" dela, é inacreditável). Mas o mais melódico deles pra mim é o Dots and Loops. Esse é mais suave que os anteriores e foi amor à primeira audição. Meu predileto. Infelizmente depois da morte prematura da Mary Hansen acho que o grupo perdeu um pouco do charme.