domingo, 16 de novembro de 2008

Joe Jackson - Night And Day (1982)


Se Paul Weller embarcou no Jam, Joe Jackson e Elvis Costello travaram uma batalha saudável de relevância para a música pop sem que tivessem noção disso. Os dois - que têm a mesma idade e o mesmo approach musical - se alternaram várias vezes como a novidade da semana nas paradas inglesas e fizeram a delícia dos fãs esclarecidos de música pop da juventude classe média da Velha Ilha.

Um belo dia as guitarras do punk - um exagero porque nem Jackson ou Costello poderiam ser enquadrados na figura clássica do punk rocker - provaram ser insuficientes para os dois sujeitos. Ambos trabalharam exaustivamente em novos discos nos quais pudessem mostrar ao mundo que eram mais que performers, queriam ser reconhecidos como autores, songwriters.

Se Costello saiu-se com o sombrio e genial Imperial Bedroom, o ano de 1982 ainda assistiria ao lançamento de Night And Day, o tal quinto disco de Joe Jackson. Era um passo ousado, mesmo para um pequeno virtuose no piano como ele. A idéia era homenagear um dos maiores songwriters de todos os tempos com o nome de uma de suas mais famosas canções logo no título do disco, justo para dar ao público a noção exata que a coisa ficara séria.

Na capa está uma gravura mostrando Jackson ao piano com os arranha-céus de Nova York ao fundo, reafirmando o grande fetiche que os ícones americanos representam para os ingleses. Junto com esse clima vem a idéia que Night And Day é um disco urbano por excelência, um feixe de nove canções sobre a cidade, a noite, a bebedeira, o glamour e o negativo/oposto que constitui o dia, quando você é um boêmio/bebum da vida.

O álbum é um trabalho de letras, timbres e harmonia, todas baseadas no piano, reafirmando a distinção clara entre "noite" e "dia", através de cada um dos lados do antigo vinil, algo que era muito mais legal quando os velhos LPs dominavam o mundo. Se em CD a coisa já perdera a graça, os cuidadosamente arquitetados lados night e day perderam o sentido numa realidade de mp3. A verdade é que a ordem das canções importava e muito para Jackson, que resolveu abrir a noite de seu disco com sua melhor canção em todos os tempos: "Steppin' Out".

O que temos em menos de quatro minutos e meio de música é um pequeno milagre da música pop no qual Jackson metaforiza a noite como rito de passagem, ou seja, vamos para a noite pois ela nos modificará e nos levará para um estágio mais avançado. Seria uma espécie de droga legal, de maturidade portátil e ao alcance de todos os que se disponham a caminhar para dentro dela.

O início de "Steppin' Out", num fade in que traz a bateria eletrônica, o piano e o baixo sintetizado mostram que a assinatura é toda de Joe Jackson. As palavras dão a noção exata do que ele pretende misturando noite e maturidade, principalmente nos versos: "We are young but getting old before our time - We'll leave the t.v. and the radio behind - Don't you wonder what we'll find steppin' out tonight", algo como "somos jovens mas estamos envelhecendo antes do tempo, deixaremos a TV e o rádio para trás, você não tem idéia do que encontraremos caminhando para dentro da noite".

O disco chegou ao topo das paradas inglesas e americanas, abrindo espaço para Jackson nos Estados Unidos. Ele deu vazão ao seu lado "sério" através de trabalhos tão diversos como a trilha sonora de Tucker, filme ambientado nos anos 50, dirigido por Francis Ford Coppola em 1988, como em discos como Laughter & Lust (1991) e Heaven & Hell (1997), sobre os sete pecados capitais. Jackson acaba de lançar seu novo trabalho, Rain. Desde já é um dos melhores discos da carreira dele e, provavelmente, um dos melhores do ano.

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