quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Simon and Garfunkel - Bridge Over Troubled Water (1970)


Simon e Garfunkel já não eram exatamente puristas do folk quando se reencontraram em 1964, após o fim de seu duo anterior, Tom & Jerry. Simon, principalmente, era um tarado por boa música pop e excelente músico. O produtor Tom Wilson, o sujeito que ajudou Bob Dylan a eletrificar o folk e mudar praticamente tudo o que se fazia no estilo, resolveu empreender uma pequena cirurgia em uma das canções de S&G, "The Sounds Of Silence". O resultado, após o acréscimo de guitarras elétricas, baixo e bateria, subiu como um foguete nas paradas de sucesso e deu novo ânimo à estréia da dupla, Wednesday Morning, 3 A.M., de 1965, que não havia causado grandes efeitos quando de seu lançamento.

Simon & Garfunkel pavimentaram uma estrada de lindas melodias e letras simbolistas. Após o lançamento de Paisley, Sage, Rosemary And Thyme em 1966 e de seu provável melhor disco, Bookends, de 1968, a dupla já era capaz de atingir o melhor de dois públicos. Considerados "bobos" pela juventude idealista hippie, S&G ainda eram capazes de conquistar fãs nas alas "moderadas" dos apreciadores da psicodelia. Além disso, as músicas doces e belas eram talhadas para agradar ao apreciador médio de música pop. As pessoas que ouviam música e não pretendiam mudar a história a partir desse ato.

Em 1970 tudo indicava que a parceria chegara ao fim. Garfunkel, dizem, se sentia inferiorizado diante do talento de seu companheiro, algo que não é totalmente mentira. Simon evoluiu no estúdio a tal ponto que pode ser comparado com os melhores produtores do pop, uma fração abaixo de gente como Brian Wilson, sem qualquer exagero. O exemplo desse talento está no último disco que a dupla gravou, Bridge Over Trouble Water. Além da canção título, gravada até por Elvis Presley, o disco trazia sucessos como "Cecilia", "The Boxer" e uma impressionante canção andina chamada "El Condor Pasa".

Mas o grande momento musical desse disco é "The Only Living Boy In New York", justamente pela subjetividade e pela declaração de amor velada a tempos idos, no momento em que há percepção total do presente se tornando futuro. Mesmo que Simon e Garfunkel tenham seguido carreiras solo - e que o sucesso de Simon apenas confirme o talento que ele sempre teve - os dois se encontraram em 1981 para um concerto comemorativo no Central Park. Dali haveria um disco de material inédito a ser gravado, abortado. Simon lançaria o subestimado Hearts And Bones um ano depois e daria seu grande salto para frente, a bordo do ambicioso Graceland (1986), quando foi até a África do Sul para gravar com músicos locais.

Voltando a 1970. "The Only Living Boy In New York" é um "até logo" a Garfunkel, diante da inevitabilidade dos fatos. A letra mostra que "o único rapaz vivo em Nova York" é Simon, após o fim da amizade dos dois, algo que nascera ainda no ginásio. O sentimento de solidão, de resignação e de enfrentamento do futuro que chega é palpável na canção. O arranjo que a dupla fez, com vozes que simulam os cantos de corais infantis - dos quais Garfunkel emergiu - são uma obra-prima da produção pop.

Gravadas numa câmara de eco, as vozes foram multiplicadas por 15 e são colocadas em fade, dando a impressão de uma despedida longa e sofrida. Há menções explícitas a Garfunkel, principalmente nos versos iniciais: "Tom, catch your plane ride on time /I know you're part will go fine /Fly down to México /And here I am /The only living boy in New York", onde "Tom" é o antigo nome de Art na primeira dupla que tiveram e a viagem ao México é uma alusão ao filme Ardil 22, no qual o parceiro atua.

Audições mais atentas da música ainda deixam transparecer nitidamente uma influência dos climas finais dos Beatles, talvez do crepúsculo da carreira dos fab four em Let It Be e Abbey Road. "The Only Living Boy In New York" é uma das mais belas canções sobre amizade e cumplicidade já feitas, sob o ponto de vista da tristeza, inferiorizada pelo tamanho do mundo e das coisas, mas capaz de levantar e seguir em frente. Paul Simon, nesse momento, conseguiu ser exatamente o que sua canção queria dizer. Ou seria o contrário?

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